terça-feira, 13 de novembro de 2007

XANGAI


Xangai


Por Fernando Serapião

Texto extraido da Revista Projeto Design Jul/07


Na primeira manhã que acordei em Xangai, levantei às cinco horas da madrugada. Apesar de meio zonzo - depois de um dia de viagem, mais fuso horário com diferença de 11 horas -, tinha a expectativa de vagar pela cidade antes do início do encontro no Fórum Holcim. Saindo do hotel, caminhei pela Nanjing Dong - uma das principais vias comerciais, transformada em calçadão. A rua estava muito tranqüila, diferente do que eu vislumbrara à noite, com luminosos que, se não fosse pelo mandarim, logo me reportariam a Las Vegas ou a Times Square, em Nova York. Com o comércio ainda fechado, o espaço público era ocupado por dezenas de grupos que praticavam tai chi chuan ou dançavam ritmos folclóricos, paramentados com espadas e vestimentas apropriadas. Cada agrupamento era acompanhado por música própria.
Até aí, pouca novidade: em São Paulo, algo semelhante ocorre no parque da Aclimação ou no Ibirapuera, com grupos guiados por praticantes de origem oriental. Uma cena mais estranha ocorria sob uma marquise, onde algumas pessoas, de saia rodada e tudo, dançavam ao ritmo do rock dos anos 1950. Mas essas macaquices também se vêem em Tóquio. Naquela manhã, a cena mais marcante era o ancião percorrendo a Nanjing Dong de costas. Isso mesmo: andando para trás! Sem olhar para onde pisava - creio que já conhecia bem o percurso -, ele caminhou dezenas e dezenas de metros. Poucas quadras adiante, surpresa: outro, e mais outro. Eu, que primeiro pensei que aquele chinês seria único, logo deduzi que se tratava de um exercício físico não de todo incomum.
Deixando o homem-caranguejo para trás, continuei a explorar Xangai, agora com a atenção voltada para a assustadora transformação urbana. Eu me sentia o próprio japonês em Paris: registrava tudo, como se fosse de outro planeta. Na capital econômica da China, destaca-se o contraste entre as novas construções e as existentes. A tradicional cidade-quarteirão, formada por moradias voltadas para pátios, dá lugar a torres recém-construídas, que brotam por todos os lados como ervas daninhas. Em Xangai, nos últimos quatro anos, foram construídos 30 mil edifícios, com alturas que variam de 30 a cem andares. Para se ter uma idéia do significado dessa verticalização, basta comparar com São Paulo, onde, no mesmo período, foram erguidos cerca de 400 edifícios (e os poucos que chegaram aos 40 pavimentos viraram notícia). Grosso modo, o crescimento vertical paulistano, cuja retomada é louvada nos cadernos de imóveis dos jornais, comparado ao de Xangai, representa perto de 0,01%. “Então deveríamos respirar aliviados”, observou o urbanista Cândido Malta, quando mencionei a ele esses números.


Ler mais na postagem "DE VOLTA PARA O FUTURO" que está publicada neste blog.

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